domingo, 10 de maio de 2009

Caminho do Norte -Dia 3



6/04/09 Dia 3: Baamonte -Miraz (20Km)


Confirmando as ameaças ao fim do dia anterior, o novo dia amanheceu cinzento e chuvoso!... Foto, para mais tarde recordar…mochilas às costas, ponchos colocados e outras coisas que tais…e ao caminho!

O destino é Miraz, uma pequena aldeia com um albergue, com lotação apenas para 14 pessoas, e diga-se o único das redondezas! Não à muitos anos, esta era a “travessia” mais longa e dura do Camino del Norte. Uma vez que o albergue de Miraz não existia, obrigando os peregrinos a palmilhar 42Km, através de caminhos de montanha, até ao mosteiro de Sobrado dos Monxes.

Mas voltemos a Baamonte, debaixo de uma chuva tímida, ainda visitamos a igreja local, com um calvário e uma mística e enorme árvore oca, com o interior curiosamente talhado com imagens, textos etc. Continuando a seguir os marcos com as vieiras (“mojón” em galego) …Alguns kms á frente o caminho atravessa mais uma linda ponte medieval e logo mais à frente, passa, desde à séculos junto da a capela de San ALberte, datada do séc XIV. Os “mojon” jacobinos fazem-nos avançar através de uma magnífica e cerrada floresta de carvalhos…indiferentes aos intensos chuveiros, desfrutámos a frescura do aroma que a floresta emanava.

Entregues aos nossos pensamentos, ora caminhávamos acompanhados ou sozinhos, fruto do ritmo de andamento de cada um dos peregrinos. É necessário dar espaço a quem caminha mais rápido e acompanhar quem tem o nosso ritmo, não descuidando quem vem mais atrás!

Cada dia que passa o corpo contabiliza, acumula a kilometragem já efectuada. Em cada manhã, partimos conscientes das nossas mazelas…e com o recôndito receio de não conseguir completar mais esta etapa…mas também com o indizível e crescente querer chegar a Santiago! Caminhamos assim cada um com o seu fardo. Aos nossos companheiros de Caminho, resta a vigilância e o apoio incondicional.

O sol acabou por se mostrar aqui e acolá…aquecendo um pouco o caminho que persistia em subir e atravessar frondosas e cuidadas florestas através de uma zona pouco povoada. Numa das paragens para tentativa de “abastecimento”, travamos conhecimento com Pablo pai e Pablo filho, divertidos peregrinos de Madrid (…dos restantes peregrinos, nem rasto!). Neste bar, ao nosso pedido de uns “bocadilhos” (sandes), obtivemos como resposta “comidas aqui no...solo bebida!”…conformados, pedimos um copito, que veio acompanhado de queijo e pão (!). Para maior surpresa, a rodada foi gentilmente oferecida por um dos clientes, com um brinde aos peregrinos Portugueses! Gente simpática…

Sem possibilidade de abastecimento e com Miraz perto, a nossa “lebre” maratonista Seabra, partiu para assim, assegurar uma noite descansada para os quatro, no pequeno albergue. Algum tempo depois entravamos pois em Miraz, sob intensos e frios chuveiros de saraiva e por fim o albergue, que nos pareceu fantástico, com um acolhedor fogão a lenha!

O albergue de Miraz é gerido pela Confraternity of Saint James, com sede em Londres. O apoio permanente aos peregrinos é assegurado por voluntários, que se revezam.

As dificuldades desta etapa pareciam ter animado a moral dos peregrinos, tal era a animação e convívio, entre os vários grupos de peregrinos, das diversas nacionalidades. Reunidos na acolhedora cozinha, cada grupo foi confeccionando a sua refeição. Destaque para o nosso “caldinho de couves”, que teve estreia internacional, com os peregrinos Alemães a servirem-se e a "rapar" as suas tigelas!

Já ao cair da noite, chegaram, cansados e encharcados, mais quatro peregrinos, um casal de Madrid e mãe e filho de Mondonedo. Por este grupo ficamos a saber que os dois Finlandeses tinham desistido e voltado para trás…

Após um pequeno e divertido serão, ao som da chuva que continuava a cair lá fora. Neste lotado dormitório, aconchegamo-nos dentro dos sacos cama, fazia frio e bastante humidade, contrastando com os anteriores albergues. Depois deste duro, mas belo dia, rapidamente adormecemos, dando início à famosa sinfonia roncadora dos albergues!

Estávamos a 88Km de Santiago!

8 comentários:

  1. O musgo sobre a pedra confere dignidade às pedras.

    Cumprimentos meus.

    ResponderEliminar
  2. Faz-nos fortes na fé
    E alegre na esperança,
    Em nosso caminhar
    De peregrino

    E foi preciso ser forte.
    E determinado!

    Mário

    ResponderEliminar
  3. Admiro profundamente a coragem de enfrentar este desafio.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Estimado CR,
    Obrigado pelas suas palavras.
    Queria desmistificar um pouco esta coisa da coragem para enfrentar
    Neste tipo de “caminhadas” o busílis da questão está na, motivação, auto determinação, na capacidade de “sofrimento” e essencialmente na confiança e apoio dos companheiros.

    Considero, por isso é que se pode falar efectivamente de coragem, no caso dos “grandes peregrinos solitários”, do Caminhos do Norte, Francês ou da Via da Prata, que fazem 600, 700 e até 1000kms de caminho solitário… uma dos grandes desafios da actualidade. Conseguir e estar bem consigo... em silêncio, na solidão, por sua conta e risco. O mais espantoso é que conheci muitos destes peregrinos…com 60 e 70s! … Nestes homens e mulheres, a coragem e a capacidade física…diluem-se perante a força humana de querer vencer!

    Quando tiver uma oportunidade de se deslocar a Santiago…atente nos rostos dos peregrinos que chegam…
    Um abraço

    ResponderEliminar
  5. passo

    a

    passo



    [há laços

    que jamais

    se desfiam]




    Grato pela partilha.

    ResponderEliminar
  6. Sigo atenta a tu singladura.
    Gracias por tu precisión.

    ResponderEliminar
  7. Ao meu sempre AMIGO, não das circunstâncias, mas dos 'momentos' reais da VIDA, sobretudo aquela que comparável com as nossas descidas, corre, ...corre sem parar !, a ponto de nem tempo dedicar a ler blogues profundos e com essência, como o teu , companheiro e meu compadre.
    AJSA

    ResponderEliminar

Obrigado pela visita...
Thanks for your visit...