quinta-feira, 21 de maio de 2009

Caminho do Norte -Dia 5



08/04/09 Dia 5 Sobrado – Arzua (22Km)

Tal como um ribeiro que desagua no rio e por fim no mar, o Caminho do Norte encontra-se com o Caminho Francês em Arzua. A partir desta localidade a torrente peregrina aumenta consideravelmente para pouco depois, exausta e serena, desaguar em Santiago na Catedral.

7.30h, hora local, Claustro dos Peregrinos, pose para o retrato do grupo. Prontos para mais um dia nesta caminhada, que dia após dia nos aproxima de Santiago. A etapa de hoje ruma até Arzua, cujo albergue estatal tem lotação para cerca de 100 peregrinos… nós queríamos constar da lista!

Conscientes e condicionados pela lotação do albergue, partimos cedo, sob um céu de chumbo. Consoante o destino de pernoita escolhido, os diversos grupos de peregrinos apertam o passo. Ficamos a saber que o grupo de Málaga, os Alemães e ainda os Madrilenos, vão também rumar até Arzua. O Madrileno, Pablo (pai) vai esperar pela abertura das lojas para comprar umas sapatilhas (amaldiçoa constantemente as suas botas “catitas” que adquiriu em Madrid...pouco antes de partir!)…. Combinamos que o primeiro a chegar ao albergue, tentaria reservar lugar para os restantes.

O trajecto do caminho, afasta-se de Sobrado, serpenteando por zonas rurais, com as torres do hospitaleiro Mosteiro a ficarem cada vez mais lá para trás, perdidas entre os bosques, seguem-se uma série de subidas até á localidade de Castro. Aos poucos a paisagem que nos envolve, torna-se mais urbana, as estradas são cada vez mais frequentes. Caminhamos com o ritmo possível, pés músculos, joelhos, costas…tudo se manifesta! As longas subidas e descidas são penosas, irritantes! Fruto das diferentes limitações e naturalmente, mais uma vez os vários grupos dispersam conforme o seu andamento. A nossa “lebre maratonista”, Seabra, “estava como o aço”…apertou o passo e desapareceu pouco a pouco no horizonte…com a missão assegurar dormida para todos, como combinado.
O Lobo e eu caminhamos horas sozinhos, sorriamos perante as mensagens e sinais que o nosso companheiro nos ia deixando marcado no chão…fazíamos o mesmo para o Nuno, que caminhava mais atrás com os peregrinos espanhóis. Apesar da determinação em chegar a “tempo”, o percurso foi apreciado, com toda a sua envolvência…como que uma despedida dos tranquilos caminhos florestais e estradas solitárias. O tempo apesar de ventoso e frio ajudava, com grandes e solarengas abertas….mas o nosso “passeio”chegou ao fim, a cerca de 6 km de Arzua, com o início de uma “diabólica” subida até uns depósitos de água…onde chegamos ofegantes!
Logo na entrada deste município, deparamos com uma feira, repleta de vendedores de polvo grelhado, à galega…e tantos outros petiscos! De vieira em vieira, fomos conduzidos até ao albergue, uma casa antiga recuperada. O Seabra esperava-nos ansioso…não eram permitidas reservas!... Embora, quando chegamos ainda havia cerca de 20 camas disponíveis… mas a afluência de peregrinos era enorme, receamos pelos restantes peregrinos, que connosco tinham saído de Sobrado!.. Esperamos, esperamos…e quando a lotação estava quase esgotada, fomos assegurar a dormida para todos numa pequena pensão.

Arzua rapidamente foi inundada por peregrinos, com as mais diversas indumentárias técnicas ou improvisadas, de todas as idades e nacionalidades. Deslocavam-se a pé, de bicicleta e até a cavalo! Cordialmente trocam-se experiências e testemunhos vivos do Caminho, como a do empresário de sucesso que faz todos os anos o Caminho Francês na companhia de 2 amigos, do peregrino com mais de 70 anos que o faz pela sétima vez…do enorme grupo de estudantes de Madrid que o fazem pela primeira vez…todos eles peregrinos com o rosto marcado pelo Caminho.
A notícia que o Nuno estava perto mas em dificuldade, chegou pelo telemóvel, (objecto só para ser usado em emergência) de imediato o nosso maratonista Seabra (sempre fresco!) foi ao seu encontro.

No meio do fluxo crescente de peregrinos, não conseguimos o contacto com os espanhóis, apenas com os peregrinos alemães. Assim, para alegria de outros, acabamos por ceder os nossos lugares no albergue estatal…e mudamos as nossas tralhas para os confortáveis quartos da pensão…um mimo que não se podia desperdiçar!

Já com o Nuno "recuperado", este nosso grupo "tuga" foi retemperar as forças, pois que a alimentação deste dia tinha sido muito frugal.
Após o jantar quis o destino, que deparássemos com os “nossos” peregrinos espanhóis entretanto extraviados…tinham conseguido lugar in extremis numa pensão tipo albergue, sobrelotada e acanhada. Pablo (pai) continuava a caminhar com muita dificuldade, Maria e Mónica (Málaga), pareciam também exaustas…enfim todos estávamos exautos! O dia tinha sido longo e duro, mesmo assim o reencontro foi efusivamente celebrado!

Afinal tínhamos cumprido mais uma etapa deste caminho…todos tinham um tecto para se abrigar da noite que caía fria e com nuvens ameaçadoras.

Estávamos agora em plena torrente humana, que é o famoso Caminho Francês, com Santiago a 39.5 Km!

8 comentários:

  1. "Apóstolo Santiago, escolhido entre os primeiros, és o grande protector dos peregrinos; faz-nos fortes na fé e alegre na esperança, em nosso caminhar de peregrino..."

    E foi preciso ser forte!
    E alegre!
    E solícito!

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  2. Olá amigo

    Mais um belo relato e mais umas tantas imagens maravilhosas dessa aventura fascinante.

    Continuarei a seguir-te até Santiago de Compostela e à entrada triunfal (embora humilde como é devido...) na sua monumental catedral.

    Um grande abraço

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  3. PARTO
    COM UM SORRISO
    NOS LÁBIOS
    E AMIZADE NO CORAÇÃO.
    SABE BEM
    SENTIR OS VOSSOS ABRAÇOS.
    MUITO OBRIGADO A TODOS
    VENHAM MAIS...
    PRECISO MUITO DE SER ABRAÇADA.

    Parto só, novamente.
    Com uma pequena mala
    recheada de sonhos
    que cabem na palma de uma mão.

    Amanhã é dia de PARTIR,
    Despedidas!
    NÃO...
    Momento de Alegria!
    SIM, vou fazer por isso...
    Parto com uma certeza:
    Dois braços abertos que me esperam
    noutra parte qualquer.

    Beijinhos

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  4. Mário...palavras vividas na primeira pessoa são de facto realidades do Camninho, que também tu bem conheces.
    Obrigado pela tua companhia neste Caminho!

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  5. Tétis, de graça ornada e gravidade,
    Pera que com mais alta glória dobre
    As festas deste alegre e claro dia!
    É com grande honra e alegria que a tenho como companhia nesta peregrinação. A escrita não é o meu espaço natural...mas a intensidade dos momentos vividos fluem quando descrevo o Caminho!
    Obrigado!

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  6. Olá Tulipa!
    Obrigado pelas lindas palavras.
    Assim seja : Dois braços abertos que me esperam
    noutra parte qualquer.
    Grande abraço!

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  7. As mais conpensadoras experiências da vida são de facto as mais simples, desprovidas de futilidades mundanas... obrigado pela partilha dessa experiência e um outro obrigado pelos comentários ao meu trabalho...

    Um grande abraço,
    Pedro

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  8. Honrado pela visita Pedro!
    Subscrevo inteiramente as suas palavras.
    Abraço!

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