sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Luz no cimo
Bate a luz no cimo
Da montanha, vê...
Sem querer eu cismo
Mas não sei em quê....
Não sei que perdi
Ou que não achei...
Vida que vivi,
Que mal eu a amei !...
Hoje quero tanto
Que o não posso ter,
De manhã há o pranto
E ao anoitecer...
Tomara eu ter jeito
Para ser feliz...
Como o mundo é estreito,
E o pouco que eu quis !
Vai morrendo a luz
No alto da montanha...
Como um rio a fluir
A minha alma banha,
Mas não me acarinha,
Não me acalma nada...
Pobre criancinha
Perdida na estrada !...
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Evolução
Evolução
Fui rocha em
tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou
ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei,
quebrando-me na aresta
Do granito,
antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera
talvez, buscando abrigo
Na caverna
que ensombra urze e giesta;
O, monstro
primitivo, ergui a testa
No limoso
paúl, glauco pascigo...
Hoje sou
homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus
pés, a escada multiforme,
Que desce,
em espirais, da imensidade...
Interrogo o
infinito e às vezes choro...
Mas
estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro
unicamente à liberdade.
Antero de Quental, in "Sonetos"
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