sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Deambulações...






























Às vezes deambulamos mudos...
como que em “automático”…. desfilam imagens, silhuetas e
conversas, sons difusos, fundos desfocados!
...Deambulações da alma,
desencontros entre o Ser e o Estar!


Sight, in SightXperience 15/11/2009











sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Conheço o vento e o sol



Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
(…)


Pessoa, Fernando (Alberto Caeiro), Guardador de Rebanhos




sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sorriso de Esperança




























Sorriso franco e olhar complacente,
Nessas encostas talhadas por gerações.
Gestos repetidos em nome de melhores dias,
Afinal e apenas agrestes, os dias. 


Sorriso de gente resiliente, 
Gestos de gente transparente.
Olhar de francas emoções,
Olhar de Esperança.


Sight





segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Vertigem






























O mais importante do mundo é a vertigem.
E para haver vertigem tem de haver precipício. Tenho de estar lá, junto do local onde a queda acontece, para conseguir manter-me de pé. Todas as vidas precisam de vertigem. E é nas tuas mãos que encontro o que me faz cair e que ainda assim me mantém de pé.

Freitas, Pedro Chagas, Prometo Falhar, Marcador Editora, 2014.




sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Abrir a janela


Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro,  in Poemas Incompletos 





sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A tua caminhada


A tua caminhada ainda não terminou...
A realidade acolhe-te
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
…das tuas palavras
e do teu silêncio.
 (...) 


Charlie  Chaplin (?) 


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Saltar por cima


Era como se tivessem saltado por cima do árduo calvário da vida conjugal e tivessem entrado directamente e sem mais delongas no amor. Seguiam em silêncio como dois velhos esposos escaldados pela vida, para lá das armadilhas da paixão, para lá das trapaças brutais das ilusões e dos reflexos dos desenganos: para lá do amor. Pois tinham vivido juntos o suficiente para se darem conta que o amor era amor em qualquer tempo (....)

Márquez, Gabriel García. O Amor nos Tempos de Cólera



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Paisagem sublimada







O Douro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. (…) 

Miguel Torga, in Diário XII









quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sou um intruso


Sou pequeno, não sou nada... Sou um intruso, neste delicado reino.
Perante mim, o verde, o azul, os vales, os cumes… está tudo ali! … Contudo nada parece real! 
Perco o meu olhar na descomunal dimensão deste horizonte...
Naquele reino feito de silêncio, escuto o meu coração, numa mistura palpitante, ofegante e extasiado. Reino delicado, este do silêncio, onde o vento e os seus humores variam entre a suave brisa e a tormenta.
Sou pequeno, não sou nada... Sou um intruso, neste delicado reino.
Esmagado por uma grandiosidade exibida neste horizonte, pelo verde irreal dos vales, pelo azul do céu e a imponência da montanha… pela exuberância das encostas floridas.
Sou pequeno, não sou nada... Sou um
 intruso, neste delicado reino.
Este é o delicado reino da majestosa montanha.

Sight







domingo, 17 de agosto de 2014

Caminhar em frente...


Distante no espaço e no tempo, o meu caminho segue em frente.
As pernas ainda só carregavam o peso dos cerca de 50km, dos 480Km do caminho. Neste segundo dia, o trilho tinha subido bastante, mas a linda paisagem desdobrava-se perante o olhar! A cumeada da montanha deixava vislumbrar lá no horizonte Nascente, o brilho acetinado de picos com neve. 

O mapa diz que o primeiro albergue está a poucos kms. Alcançado, reconhecemos de imediato caras morenas e sorridentes de companheiros deste caminho, refugio simples apoiado por uma “bar” nas imediações, ainda tem muitos lugares livres… mas o objectivo daquele dia era mais à frente uns 6 km. 

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La Mesa, o aviso no guia era suficientemente claro para aquela aldeia de destino. Pequena e esquecida, com os seus 18 habitantes, na berma de um Caminho. …“Por su altitude y emplazamiento, suele hacer un frío notable (sobre todo por las noches), incluso en verano”
Atingida a pequena aldeia e eis que, linda e de deslumbrante tranquilidade, uma magnífica ermida aninhada à sombra de um gigantesco plátano nos recebe na vizinhança do albergue, onde Guillaume já acenava! Este peregrino francês iniciou a sua caminhada em Montluçon (França) e era já um simpático companheiro desde a primeira etapa. 

Aos poucos e poucos, ao “nosso” refúgio foram chegando caras novas e outras conhecidas. Para todos tinha sido um dia longo…. A aldeia não dispunha de qualquer apoio, assim e dentro de portas, cada peregrino tratou do seu jantar… já que lá fora e com o pôr-do-sol tinha chegado um vento muito fresco! Com frio e cansados todos acabam por recolher. Uns liam, outros jogavam às cartas e até havia quem tivesse o rosto iluminado pelo seu i-pad.  
Fizemos chá, oferecemos bolachas e mais apareceram de outras mochilas. Uns aceitaram de bom grado… outros hesitaram. A conversa aqueceu aquele início de noite.
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 O simpático Guillaume dizia que não queria chegar a Santiago!... A “Inglesa” solitária e excêntrica, afinal tinha iniciado a sua caminhada logo á porta de casa….em Londres. O simpático e misterioso Boris, Russo tinha voado de S. Petersburgo e andava maravilhado com as paisagens, o quase adolescente e de ascendência hispânica Jonathan, e o gentil gigante Brian tinham vindo dos EUA, aliás Brian fazia questão de afirmar que vinha do Estado de Montana onde, segundo ele, existiam mais vacas do que homens!… E ainda o distante Neo Zelandês que, enroscado no saco cama, continuava a dormir. 

A conversa prolongou-se um pouco mais, partilharam-se os poucos víveres disponíveis e o chá quente, foi afinal abençoado por todos em volta daquela mesa de nações unidas do Caminho. Apesar do tempo, ritmo e objectivos individuais.

Distante no espaço e no tempo, relembro aqueles momentos simples de partilha de caminhos cruzados. 
Ainda sem respostas, quis o destino que o meu caminho fosse em frente.

(Sight -07/2014) 


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Caminho ao longo dos oceanos frios


Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços

A praia é lis e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.


Praia by Sophia de Mello Breyner





domingo, 22 de junho de 2014

Em mudança eterna






























(...)
A alma do homem 
É como a água: 
Do céu vem, 
Ao céu sobe, 
E de novo tem 
Que descer à terra, 
Em mudança eterna. 

Goethe, in "Poemas" 


 Sugestão musical u de Haendel, "Water" (Piano solo)





domingo, 8 de junho de 2014

Equivalência das janelas



Descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.

In Memórias Póstumas –Machado Assis









sexta-feira, 23 de maio de 2014

A pose de ser..







































Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e mais calma.
Pose por pose, a pose de ser o que sou.

    By Fernando Pessoa 




sexta-feira, 16 de maio de 2014

Como a pedra





(…)
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"









sábado, 3 de maio de 2014

Caminhar dentro de nós...






É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver."

By Gabriel García Marquez





domingo, 27 de abril de 2014

Recordar...




A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece,
mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda.

by Gabriel García Márquez

Sugestão musical  Bach, Cello by Yo-Yo-Ma


sábado, 5 de abril de 2014

Sonho






Teria passado a vida
atormentado e sozinho
se os sonhos me não viessem
mostrar qual é o caminho
umas vezes são de noite
outras em pleno de sol
com relâmpagos saltados
ou vagar de caracol
quem os manda não sei eu
se o nada que é tudo à vida
ou se eu os finjo a mim mesmo
para ser sem que decida.

Agostinho da Silva, in 'Poemas'










sexta-feira, 28 de março de 2014

Verdadeiramente

Todo o estado de alma é uma passagem.
Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. (...)

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'