domingo, 22 de fevereiro de 2009

Açores: O Mar, O Vento, As Pedras























A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.

A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

"A CONCHA" de Vitorino Nemésio
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Açores: o Trancador!















...As baleias, lá bem longe,
flutuam segundos e mergulham naquele mar bonançoso,
mas que, de um momento para o outro, pode pôr-se rijo.
Os botes continuam a deslizar com velocidade.
O objectivo é aproximar-se da baleia, sem ruído.
O trancador (arpoador) de pé, com os pés bem firmes,
vai à proa de arpão em punho.

Monumento aos Caçadores de Baleias (S. Roque do Pico)
Citação da Caça da Baleia, CM Lages do Pico

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Açores: O Canal





!









Horta -Faial - O Peter´s café... âncora segura das notícias do lar, de tantos marinheiros em travessias atlânticas

































Os Ilhéus Deitado e Levantado, entrada do porto da Madalena do Pic
o

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Açores: Olhando o Atlântico Amigo












Há uma casa no olhar
de um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.

Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins
das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.

Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida,
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.


Um Amigo
por Eduardo Bettencourt Pinto

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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rio mudo...

































Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?


Fernado Pessoa -"Comtemplo o Lago Mudo" in Cancioneiro


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