domingo, 27 de setembro de 2009

Guarda Florestal



Guarda Florestal

Sei o nome, o silêncio, o tempo delas.
Maior que o meu.

Algumas derrubei,
do fogo: remorso de ferida
na resina, mel de dentro.

Uma a uma me albergou.
Fui zirro, ninho, corvo, rouxinol:
voar, outro ser desejei.

Vento,de ramo em ramo.

Por raízes, como espadas, afundado.
Opaco tudo, sempre mais, na terra.



António Osório: Ofícios

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estado de Ausência...




















Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade: Ausência







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domingo, 6 de setembro de 2009

Contemplo o que não Vejo












Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"