sexta-feira, 23 de abril de 2010

Diário de um Caminho - Dia 1



O Caminho Sanabrês, também conhecido por Caminho do Sudoeste, é uma ramificação da famosa Via da Prata e do Caminho Moçárabe. Este foi o nosso Caminho percorrido, com íncio em Alberguaria (Laza), a cerca de 170Km de Santiago de Compostela. 
O desafio para escrever este diário de caminho, foi lançado a uma "novata"...  Esta é a sua crónica:

O Desejo de percorrer o Caminho, tantas vezes alcançado por milhares de Peregrinos, ao longo de centenas de anos, começa a ser uma obsessão.



Dentro de mim há um desejo enorme de voltar às origens, renascer, recomeçar de novo, um novo ser, uma nova alma...
Um Caminho longo e tortuoso nos aguarda, apenas um desejo me invade o pensamento, partir... e no entanto a dúvida persiste: meu Deus será que sou capaz?
   Espero impacientemente o amanhecer...

   Finalmente o dia da Partida!! Depois de muito arrumar e desarrumar, depois da selecção final, da pré-selecção, a mochila fica pronta e eu cheia de energia para rumar pelos Caminhos. Verdade será dita, pouco ou nada dormi com o pensamento  de mil e uma peripécias que se avizinham.

   Concentração dos Bravos no Mosteiro de Leça do Balio, excelente escolha de local cheio de história e simbolismo, para iniciar a nossa jornada. E o primeiro carimbo. Começa assim a caça aos carimbos para embelezar a nossa Credencial de Peregrino:)
   Apresentações dos companheiros de aventura e a foto de praxe. Começa-se a ouvir os primeiros acordes de Ai Ai Ai Camineiro, sim isto promete...
  
  Rumamos para a nossa primeira paragem, Chaves, numa bela taberna, a do Faustino por sinal, mas afinal vamos percorrer os Caminhos de Santiago ou vamos fazer umas tainadas???  Comam, comam, houve-se alguém ao fundo, nunca se sabe quando será a próxima refeição quente!!!!

  A entrada em Espanha representa o início das últimas sete etapas do Caminho Sanabrês, "Via de la Plata" ou dos "Mozoarabes", caminho muito utilizado por novos Cristãos, cujo início se situa em Sevilha. Penso entre dentes: Um dia faço-o todo :) E assim a nossa aventura começa.

O "Rincon del Peregrino" em Albergueria foi uma agradável surpresa. Tasquinha típica de aldeia galega, completamente forrada por vieiras. Centenas, milhares, até onde a vista alcança… a marca dos peregrinos!!! Que orgulho poder participar e deixar a nossa marca !!!! Já não há “volta atrás”.... :)
Por entre ruas e vielas, flechas e "Mojóns” que teimam  em não aparecer lá vamos nós, de sorriso nos lábios e um desejo enorme de chegar ao destino. O equipamento começa a ser testado e “Viva” aos Ponchos !! Sinal característico de peregrino que se preze e o vento e chuva que o digam…
  No alto daquela colina e antes de descer para Vilar de Barrio, uma bela Cruz acompanhada por tímidos raios de sol que teimam em aparecer entre nuvens carregadas,  indica-nos triunfalmente o Caminho, uma Visão… Momentos únicos incapazes de ser descritos ou visualizados a não ser por quem os viveu.

    Vilar de Barrio à vista, o nosso primeiro Albergue e já de refeição marcada na "Carminã", personagem muito querida de todos os peregrinos. Verdadeiro tasco típico de início de século, que se fosse visitada pela nossa ASAE, seria de imediato fechada, por entre verdadeiras relíquias de máquinas, Carminã explica que é um gosto que passa de geração em geração acolher o peregrino.
    Um verdadeiro manjar nos aguarda, por entre águas esverdeadas e comida que nunca mais acaba.

A primeira etapa está concluída, um pequeno teste à nossa resistência, cerca de 17km, a nossa tolerância às forças da natureza e os primeiros convívios.
Xiuuu os peregrinos dormem, não incomodar. Meu Deus com tantos Roncadores como adormecer?? Enfim o cansaço vence e Santiago cada vez mais perto....


 Texto by Lai
Fotos by Sight


(Continua...)

domingo, 18 de abril de 2010

Porque partes?




Partir em busca de um rumo,
Olhar o horizonte, à distância do querer!
Palmilhar trilhos remotos,
Em cada passo marcado na lama, renascer!
Porque partes?

Lama e mais lama, esforço para avançar,
Em trilhos cujo fim, a vista deixa de alcançar!
Horas, dias a caminhar de mochila às costas,
...Mal amada, afinal carregada de conforto!
Porque partes?

Descobrir o genuíno e universal mundo rural,
Sentir o vento que sopra gelado nos planaltos,
Avistar paisagens emolduradas por nuvens de temporal!
Porque partes?

Abraçar o desafio de um sonho comum,
Redescobrir a grandeza dos pequenos gestos,
Chegar, chegar longe… de braços abertos!
Porque partes?

Sight