sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Sombra...de um sonho.






































Existem pessoas de quem nos lembramos, e outras com quem sonhamos.
Carlos Ruiz Zafón (2001), A sombra do vento

domingo, 24 de novembro de 2013

Aquela árvore



Aquela árvore, altiva e imponente,
Irradia a serenidade da idade que não mente.
A pequena ermida recolhe-se naquela companhia secular,
À luz do fim de tarde, que espalha seus tons de fogo pelo ar.

Aqui se cruza o caminho, com o verbo do sonho,
Na lonjura de um horizonte para contemplar.
Fica aqui o verbo acreditar,
Leitura enraizada daquele sonho.

Sigh



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É preciso partir!





Terra - 24

António, é preciso partir! 

o moleiro não fia, 
a terra é estéril, 
a arca vazia, 
o gado minga e se fina! 
António, é preciso partir! 
A enxada sem uso, 
o arado enferruja, 
o menino quere o pão; a tua casa é fria! 
É preciso emigrar! 
O vento anda como doido – levará o azeite; 
a chuva desaba noite e dia – inundará tudo; 
e o lar vazio, 
o gado definhando sem pasto, 
a morte e o frio por todo o lado, 
só a morte, a fome e o frio por todo o lado, António! 
É preciso embarcar! 
Badalão! Badalão! – o sino 
já entoa a despedida. 
Os juros crescem; 
o dinheiro e o rico não têm coração. 
E as décimas, António? 
Ninguém perdoa – que mais para vender? 
Foi-se o cordão, 
foram-se os brincos, 
foi-se tudo! 
A fome espia o teu lar. 
Para quê lutar com a secura da terra, 
com a indiferença do céu, 
com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra, 
com tudo! 
Árida, árida a vida! 
António, é preciso partir! 
António partiu. 
E em casa, ficou tudo medonho, desamparado, vazio. 

Fernando Namora, in 'Terra'

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A vida à la minute





































A vida à la minute

Ela, caprichosa, exige imobilidade e toda a atenção do momento.
Não consegue esconder as marcas do tempo passado, mas a eficiência do mecanismo alemão,
com os seus mais de 100 anos, executa o seu metier na perfeição.
Ele, a rondar os 80, habilidoso de mãos, olho vivo… perscruta os turistas em busca de clientela.
Pela mão do pai, cedo se iniciou nesta busca, ao longo de décadas refinou o seu saber.
Viana do Castelo, escadaria de Santa Luzia, máquina e fotógrafo. A sincronia do saber.
Corrupio de gente, famosa ou anónima, ao longo de décadas perfilada perante este par. …Perfilada, rendida, perante este saber reter momentos da vida à la minute.

14 Julho 2013
Sight




O Sr. Manuel Gonçalves nas notícias:



sexta-feira, 10 de maio de 2013

Encantado por natureza.




Intenso momento, encantado por natureza.
O olhar nos olhos tudo dissipa e a voz sussurrante tudo suspende.
A conversa sempre esperada… flui com franqueza.
As coincidências somam-se no olhar e a doçura é traçada pelo sorriso. 
A vida suspensa, no olhar aveludado. 
Ternura transformada num simples abraço,
Intenso momento… desde sempre esperado.

Sight

domingo, 5 de maio de 2013

A senhora Maria que soma muitos anos


A senhora Maria que soma muitos anos, 
muitos muitos, mas não sabe quantos...
A senhora Maria do sorriso afinado a dois únicos dentes...
de olhar distante, nos muitos muitos anos...



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Identidade













Identidade

Preciso ser um outro 
para ser eu mesmo 

Sou grão de rocha 
Sou o vento que a desgasta 

Sou pólen sem insecto 

Sou areia sustentando 
o sexo das árvores 

Existo onde me desconheço 
aguardando pelo meu passado 
ansiando a esperança do futuro 

No mundo que combato morro 
no mundo por que luto nasço 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"




sexta-feira, 12 de abril de 2013

Formas invisíveis


(...)
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.

Horizonte in Mensagem by Fernando Pessoa




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cidade cega




...
Cidade cega. Todos os dias, 
A nossa vida fica mais breve, 
As nossas mãos ficam mais frias... 
Todos os dias, todos os dias, 
A morte paga, paga a quem deve. 
...

Pedro Homem de Mello, in "Grande, Grande Era a Cidade..."




sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma cidade...



 Uma cidade pode ser 
apenas um rio, uma torre, uma rua 
com varandas de sal e gerânios 
de espuma. Pode 
ser um cacho 
de uvas numa garrafa, uma bandeira 
azul e branca, um cavalo 
de crinas de algodão, esporas 
de água e flancos 
de granito. 
                      Uma cidade 
pode ser o nome 
dum país, dum cais, um porto, um barco 
de andorinhas e gaivotas 
ancoradas 
na areia. E pode 
ser 
um arco-íris à janela, um manjerico 
de sol, um beijo 
de magnólias 
ao crepúsculo, um balão 
aceso 

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"




sexta-feira, 1 de março de 2013

O olhar gritou!



























O grupo percorria as ruelas e as calçadas tristes e sós, desse Porto cascata sanjoanina. Eu tinha ficado para trás. Ali sobre a calçada, onde tudo se vende, num inesgotável bric a brac de roupas e quinquilharias.… o seu olhar gritava, o que a cavaqueira confirmou. Fez questão de o dizer que não era para a droga!…
Aquilo tudo, era uma instituição que lhe arranja para vender, fazendo assim um dinheirito, para ajudar!

Perguntei o nome, pedi para tirar o retrato… o sorriso envergonhado acabou por brilhar.
Dia soalheiro e frio de um Fevereiro perdido na escuridão da austeridade.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Busco o futuro




Deixei para trás uma vida. 
Para trás deixei a alma,
Deambulo no momento.
Neste momento feito de escuridão.
Percorro os trilhos da vida,
Busco o futuro desta solidão.


Sight 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

A Saturação da Servidão




A Saturação da Servidão

Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...) Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.

Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma. Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

...Gente dura, os montanheiros!


Rostos queimados pelo vento,
Olhos que buscam o destino no horizonte longínquo,
…Gente dura, os montanheiros!

Aceitam o sopro gelado da montanha,
Enfrentam o calor do seu abraço nas duras encostas.
Numa quimera inútil e sem fim, palmilham os trilhos!
…Gente dura, os montanheiros!

Gente que escuta a majestade do silêncio, nos grandes espaços,
Gente que explode de alegria com o sucesso conjunto,
Gente que se detêm extasiada na imensidão das paisagens,
Gente pronta a dar a mão ao companheiro,
…Gente dura, os montanheiros!

Aos montanheiros(as) do VAMOS ALI
Rooibos


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

... Afinal nada indiferente!





Na manhã de Reis, indiferente à passagem matinal, indiferente à temperatura gélida da água... as suas mãos mergulhavam e esfregavam a roupa. Sem parar o frenesim de brancura... sorriu e saudou calorosamente. 
...Afinal nada indiferente!