Terra - 24
António, é preciso partir!
o moleiro não fia,
a terra é estéril,
a arca vazia,
o gado minga e se fina!
António, é preciso partir!
A enxada sem uso,
o arado enferruja,
o menino quere o pão; a tua casa é fria!
É preciso emigrar!
O vento anda como doido – levará o azeite;
a chuva desaba noite e dia – inundará tudo;
e o lar vazio,
o gado definhando sem pasto,
a morte e o frio por todo o lado,
só a morte, a fome e o frio por todo o lado, António!
É preciso embarcar!
Badalão! Badalão! – o sino
já entoa a despedida.
Os juros crescem;
o dinheiro e o rico não têm coração.
E as décimas, António?
Ninguém perdoa – que mais para vender?
Foi-se o cordão,
foram-se os brincos,
foi-se tudo!
A fome espia o teu lar.
Para quê lutar com a secura da terra,
com a indiferença do céu,
com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra,
com tudo!
Árida, árida a vida!
António, é preciso partir!
António partiu.
E em casa, ficou tudo medonho, desamparado, vazio.
Fernando Namora, in 'Terra'
A vida é dura.
ResponderEliminarPorra!
Esta imagem alerta-nos!
Trabalho excelente, como sempre.
Perspicaz.
Sensível.
Belissimos... obrigada
ResponderEliminarnunca perdendo a esperança:
"Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera."
in «As Mãos e os Frutos» Eugénio de Andrade
Parafraseando alguém muito (muito!) especial...
ResponderEliminaro mundo é cheio de coisas magníficas que esperam pacientemente que a nossa mente fique mais aguçada.
in http://ideiasvivas2011.blogspot.pt/
Agradeço a vossa presença atenta e dedicada.